Não é novidade que a vitamina D é importante para saúde dos indivíduos, sobretudo, no que se refere ao seu papel na utilização do cálcio pelo organismo e pela mineralização óssea adequada.
Para além das discussões de classificação como vitamina ou hormônio/pré-hormônio, estudos recentes têm discutido descobertas em relação a novas funções deste nutriente no organismo.
Na semana passada a revista Nutrients publicou uma revisão sistemática e meta-análise, avaliando os níveis séricos de vitamina D e o Índice de Massa Corporal (IMC) em indivíduos com diabetes ou não. Ao todo, os pesquisadores analisaram 55 estudos observacionais.
O que os dados mostraram? Segundo os pesquisadores, os resultados da meta-análise indicaram uma relação inversa entre o nível sérico de vitamina D e o IMC. Ou seja, em indivíduos que são portadores ou não de diabetes, quanto menor o nível sérico de vitamina D, maior o IMC (e vice-versa), portanto, a deficiência de vitamina D está associada a um aumento do nível de IMC nesses indivíduos.
A forte correlação inversa entre a deficiência de vitamina D e o IMC pode ser devida à relação entre a coexistência da hipovitaminose D e obesidade estarem relacionadas ao desenvolvimento de doenças diversas doenças, como o diabetes tipo 2, uma vez que o efeito sinérgico da obesidade e da deficiência de vitamina D pode desenvolver resistência à insulina. A explicação está pautada na hipótese de que os receptores de vitamina D podem ter um papel no diabetes tipo 2 e obesidade e os receptores de vitamina D induzidos por 1, 25- (OH) vitamina D são mais expressos no tecido adiposo em obesos quando comparados aos indivíduos magros.
A relação entre adiposidade e hipovitaminose D é bastante discutível. A relação inversa pode ser devido a renovação da vitamina D no tecido adiposo ou pode ser devido a razão de que a vitamina D pode regular o tecido adiposo e então, contribuir para uma maior massa de gordura e complicações relacionadas a obesidade.
É sempre importante lembrar que apesar de ser um estudo com um ótimo nível de evidência científica, analisou estudos observacionais, portanto, não pode ser avaliado efeitos de causalidade.
Além disso, a obesidade é uma doença multifatorial, portanto, a análise isolada de um único parâmetro não é aconselhada na prática clínica. No entanto, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) recomenda que seja realizada a avaliação laboratorial em indivíduos com risco para a hipovitaminose D ou para aqueles cuja situação clínica seja relevante e, entre os indivíduos indicados à mensuração estão os obesos, uma vez que enquadram-se como população de risco para deficiência e após a cirurgia bariátrica isso se agrava, levando a hiperparatiroidismo secundário e a aumento no risco de fraturas.
Os principais grupos de risco para hipovitaminose D estão listados abaixo:
- Idosos – acima de 60 anos;
- Indivíduos que não se expõem ao sol ou que tenham contraindicação à exposição solar;
- Indivíduos com fraturas ou quedas recorrentes;
- Gestantes e lactantes;
- Osteoporose (primária e secundária);
- Doenças osteometabólicas, tais como raquitismo, osteomalácia, hiperparatireoidismo;
- Doença Renal Crônica;
- Síndromes de má-absorção, como após cirurgia bariátrica e doença inflamatória intestinal;
- Medicações que possam interagir com a formação e degradação da vitamina D, tais como: terapia antirretroviral, glicocorticoides e anticonvulsivantes.
Valores ideais de 25(OH)D | |
Grupo | Valor de referência (ng/ml) |
População saudável (até 60 anos) | > 20 |
Grupo de risco | 30 – 60 |
Fonte: SBEM, 2017 |
Valores acima de 100 ng/ml oferecem risco de toxicidade e hipercalcemia.
Doses de manutenção diárias de vitamina D recomendadas para a população geral e para a população de risco para deficiência:
Faixas etárias | População geral (UI) | População de risco (UI) |
0-12 meses | 400 | 400-1.000 |
1-8 anos | 400 | 600-1.000 |
9-18 anos | 600 | 600-1.000 |
19-70 anos | 600 | 1.500-2.000 |
> 70 anos | 800 | 1.500-2.000 |
Gestantes 14-18 anos | 600 | 600-1.000 |
Gestantes > 18 anos | 600 | 1.500-2.000 |
Lactantes 14-18 anos | 600 | 600-1.000 |
Lactantes > 18 anos | 600 | 1.500-2.000 |
Devido à escassez nas fontes alimentares, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia recomenda a exposição ao sol para que a produção cutânea de vitamina D seja catalisada pelos raios UVB.
Fontes Alimentares de Vitamina D | ||
Alimento | Porção | Conteúdo de vitamina D por porção |
Salmão selvagem | 100 g | ~ 600-1.000 UI de vitamina D3 |
Salmão de criação | 100 g | ~ 100-250 UI de vitamina D3 |
Sardinha em conserva | 100 g | ~ 300 UI de vitamina D3 |
Cavala em conserva | 100 g | ~ 250 UI de vitamina D3 |
Atum em conserva | 100 g | ~ 230 UI de vitamina D3 |
Óleo de fígado de bacalhau | 5 ml | ~ 400-1.000 UI de vitamina D3 |
Gema de ovo | 1 unidade | ~ 20 UI de vitamina D3 |
Cogumelos frescos | 100 g | ~ 100 UI de vitamina D2 |
Cogumelos secos ao sol | 100 g | ~ 1.600 UI de vitamina D2 |
Fonte: SBEM, 2014
Referências bibliográficas
Ferreira, C. E. S.; Maeda, S. S.; Lazaretti-Castro, M.; Vasconcellos, L. S.; Madeira, M.; Soares, L. M.; Borba, V. Z. C.; Moreira, C. A. Posicionamento Oficial da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML) e da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) – Intervalos de Referência da Vitamina D – 25(OH)D. Arq Bras Endocrinol Metab. 2017.
Rafiq, S.; Jeppesen, P. B. Body Mass Index, Vitamin D, and Type 2 Diabetes: A Systematic Review and Meta-Analysis. Nutrients 2018, 10, 1182.
Maeda, S. S.; Borba, V. Z. C.; Camargo, M. B. R.; Silva, D. M. W.; Borges, J. L. C.; Bandeira, F.; Lazaretti-Castro, M. Recomendações da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) para o diagnóstico e tratamento da hipovitaminose D. Arq Bras Endocrinol Metab. 2014;58/5.